Nostradamus Escreveu:
Dizer que este Tour foi mau é só ridículo. Acaba por ser uma volta à França demasiado marcada pelos últimos 2 dias onde a temperatura e a saída de cena do Pinot deitaram tudo a perder.
De resto faltou alta montanha. O Allaphillipe beneficiou disso. Não acredito sinceramente que alguma vez ganhe o Tour porque a edição deste ano foi desenhada para um ciclista como ele.
Eu também acho que foi um bom Tour. Houve menos etapas monótonas do que é habitual e aquela curiosidade de ver até onde ia o Alaphilippe foi muito interessante de seguir. Pena que as etapas do Alpes tenham sido encurtadas, bem como o abandono do Pinot mas mesmo assim o Bernal ainda deu espectaculo.
Agora o que não concordo é dizer que a edição deste ano estava desenhada para um ciclista como o Alaphilippe. Uma edição que teve um número record de subidas acima dos 2000 metros não se pode considerar uma edição com falta de alta montanha. O que faltou sim foi um melhor desenho e encadeamento de algumas etapas de montanha mas de resto o Alaphilippe beneficiou de não ser um homem marcado para a geral nas etapas 3 e na 8. Acredito que um dia venha focado na geral do Tour e se a ASO for amiga com o percurso pode mesmo ser um candidato sério.
Quanto ao Bernal acaba por ser um justo vencedor. É verdade que nalgumas etapas não pareceu estar ao seu melhor, desde logo no contra-relógio mas isso também pode ser uma consequência de ter de alterar a preparação após que o afastou do Giro. Acredito que vai marcar esta geração e vai voltar a vencer o Tour (e as restantes Grandes Voltas) mas não tenho tanta certeza como o Armstrong ou o Wiggins que dizem que ele vai ganhar 5 ou 7 Tours porque este percurso era muito bom para ele e porque para além da concorrência dentro da equipa existe um Dumoulin que para mim tem qualidade para ganhar o Tour pelo menos uma vez sobretudo se se confirmar que ele vai mesmo para a Jumbo ou se o número de quilómetros de CRI voltar a aumentar (como espero que aconteça). O Roglic ou Pinot podem também ser eventuais vencedores no futuro próximo.
O Thomas não esteve tão bem como o ano passado, mas esteve melhor do que esperava nos Alpes e isso foi suficiente para chegar ao segundo lugar. Confirmou assim que não é um one-hit wonder (ao contrário do que muitos achavam) mas tenho bastantes dúvidas se voltará a vencer o Tour novamente até porque já não caminha para novo. O Kruijswijk consegue um terceiro lugar que acaba por ser um prémio de carreira para ele, fazendo uma corrida defensiva e beneficiando de ter aquela que foi para mim a melhor equipa do Tour ao seu lado.
Fora do pódio, destaque para a boa corrida do Buchmann ainda que também ela marcada pela defesa e para a Movistar que apesar de colocar três homens no top10 e de ganhar a geral por equipas, falhou novamente o assalto à vitória geral mostrando-se novamente desordenada.
Falhanço novamente do Porte, Adam Yates e Bardet (ainda que este último se tenha salvo com a camisola da montanha).
Em relação aos sprints, foi uma das piores edições que me lembro em termos nível, sem homens como Gaviria, Bennett ou Jakobsen mas com um grande Ewan a mostrar que é mesmo um caso sério com uma capacidade de aceleração acima dos demais. Groenewegen e Viviani desiludiram-me um pouco mas a Jumbo teve vitórias surpresa de Teunissen e Van Aert. Apesar de não ter estado tão bem como em anos anteriores o Sagan conquista a sétima camisola verde e mostra mais uma vez que neste capítulo específico é para já imbatível.
Finalmente uma palavra para os portugueses. O Rui Costa não teve um Tour bem conseguido, tentou ganhar mas ficou sempre muito longe dos primeiros lugares mesmo nas fugas onde se inseriu. Estranho como o nível dele caiu tanto após o grande Tour de Romandie que fez. Quanto ao Nelson Oliveira acabou por cumprir com a sua missão, fez um bom contra-relógio e ajudou os lideres dentro das suas capacidades. Por último o que dizer do José Gonçalves. Após o 14º lugar do Giro do ano passado não consigo compreender como é que ele fez um Tour (e uma época) em que mal o vi, não entrou em fugas e o melhor que fez numa etapa individual foi 76º lugar. Tendo em conta que esteve em boa forma nos nacionais parece-me que está acomodado como infelizmente têm acontecido a outros ciclistas portugueses a correr no estrangeiro.
Não concordo em parte com Porte. Podia ser melhor, mas é a primeira vez em que é líder e não tem as quedas/desistências/azares de outras grandes voltas.
De resto destaco também a dupla da Lotto-Soudal (De Gendt/Wellens) e também a boas exibições na montanha de Gesbert e Kamna