zeduarte 10 Escreveu:
A primeira vez que vi uma volta à França na íntegra foi em 2007 e desde aquele dia em Plateau de Beille que o Contador é um dos meus favoritos. E só não é o meu favorito porque não tenho um, há um leque de ciclistas de quem gosto mais ou gosto menos, mas favorito não tenho. Se tivesse ele estava lá perto.
Ora bem, à data o Contador, não sendo meu conhecido, como aliás mais nenhum o era – talvez excepção a McEwen, Hushovd e Boonen – ficava atrás do Rasmussen e do Vinokourov nas minhas preferências. Fiquei irremediavelmente triste com as saídas deles e ainda hoje se pensar nisso fico mas pronto, o Contador acabou por vencer de uma forma fantástica e previa-se que fosse vencer o Tour por 10 anos seguidos.
No ano seguinte sentiu-se pela primeira vez uma espécie de perseguição, possivelmente uma palavra mal escolhida por mim, de perseguição não se trataria, o Contador nem era um ciclista muito polémico, a Discovery não teve um bom fim, a Astana tinha o grande candidato a vencer o Tour, muito se pode especular. Não interessa. Dizia eu, em 2008 foi-lhe negada a hipótese de defender o Tour. Se ele era o voltista mas forte da época, isto não seria boa notícia para ele com toda a certeza, mas um bom desenho da época fez o Alberto chegar à vitória no Giro e na Vuelta, num Giro que foi, até hoje, uma das provas mais icónicas que presenciei. Sella, Bruseghin, Ricco ou Visconti são nomes que guardo desde aí.
Em dois anos o Contador fez o que muito boa gente não consegue numa carreira inteira e dissipou as dúvidas de quem era o melhor voltista do mundo. E ao nível a que estava podemos dizer, ainda que de uma forma não muito factual, que o Alberto era o melhor ciclista do mundo. 3 grande voltas em 2 anos, nada mau.
No ano seguinte foi o regresso ao Tour e não houve surpresas, no final de Julho o povo de Pinto voltaria a sair às ruas aclamar o seu campeão. No ano seguinte AC era novamente o favorito, e, ainda que à laia de Andy Schleck, o maior problema que Alberto enfrentou foi Lance Armstrong, numa rivalidade interna que fazia lembrar Lemond e Hinault com o pistoleiro a ficar isolado dentro da sua própria equipa. Ainda hoje os tweets de Armstrong com as palavras “Hey pistoleiro bla bla bla” agitam o dia-a-dia do ciclismo. Contador venceria o seu terceiro Tour e, com três Tours aos 28 anos, e com tamanho domínio sobre a concorrência onde só Andy Schleck se aproximava, parecia que a marca de Merckx, Hinault, Indurain e os outros dois de quem não me lembro o nome estava à vista.
Em 2011 tivémos uma das melhores Voltas a França de sempre. Contador tinha vindo de uma vitória no Giro e, falo para mim, foi muito mau vê-lo a passar dificuldades. Pela primeira vez Alberto era humano junto dos restantes, junto como quem diz, atrás seria de facto mais correto. Ver o Evans a ganhar ao Contador e ao Andy fez-me sentir o Luis Freitas Lobo quando o Brasil de 82 perdeu com Itália. Na altura não gostava nada do Evans, do Schleck gostava, mas o australiano fazia-me lembrar uma baleia gorda e feia. Não gostei nada do desfecho, ainda por cima num Tour fantástico dos irmãos Schleck – vê-los aos dois no pódio é uma das melhores imagens que tenho do Tour – e do show de Voeckler onde, chegando às montanhas de amarelo, todos se perguntavam quanto tempo mais iria aguentar e ele próprio ia para a frente do grupo como quem espera ansioso os ataques. Enfim, escusado será dizer que com as devidas distâncias, hoje olho para o Evans e fico contente por aquele Tour constar do seu currículo.
Posteriormente veio a pior fase do Contador com a suspensão que fez com que me afastasse um bocadinho de ciclismo. Daí em diante acompanhei muito menos, até por motivos profissionais. Ainda assisti àquela Vuelta de 2014 que é mais um ponto verdadeiramente histórico.
Enfim, quando oiço falar em ciclismo um dos primeiros nomes que me vem à cabeça é o do Alberto, porque se nestes 10 anos a minha vida mudou brutalmente, o que não mudou nada foi o facto dele continuar ano após ano, subida após subida a ser um dos melhores do mundo. Nestes anos finais mostrou outra faceta, não era o dominador que foi entre 2008-2010 mas continuou a ser um ciclista romântico e não há dúvidas que está na história. Obrigado Alberto, a sério, e viva la madre que te parió.
Zeduarte tens aí algumas inconsistências no discurso :
2009 - Dominou o Tour na Astana (com Armstrong)
2010 - Ano very close com o Andy, onde até depois perdeu o Tour