Olá a todos!
Ainda estive na dúvida se iria escrever este tópico hoje por causa do jogo de Portugal mas o prometido é devido. Por isso neste tópico irei falar sobre um tema que tem animado bastante o ciclismo nos últimos anos: ataques de longe. Não só é espetacular ver um candidato à vitória numa competição a atacar a mais de 30 kms da meta como também o é ver os danos consequentes do aceleramento que estes provocam no pelotão. Este segundo motivo é a principal razão porque eu gosto de ver este tipo de ataques.
Antigamente só se atacava desta maneira, daí as diferenças de horas entre os ciclistas numa etapa plana nessas primeiras competições. Nessa época, o ciclismo era um desporto radical associado aos jovens que se opunham ao conservadorismo imposto pelas suas famílias, o que contribuía também para essa loucura nas etapas.
Ao longo das décadas, as coisas foram estabilizando e as diferenças entre os vencedores das principais competições iam diminuindo. Depois da 2ª Guerra Mundial, o ciclismo mudou significativamente no que diz respeito a diferenças de tempo entre o top-10 de uma competição ao mais alto nível face às décadas passadas. Porém, estes ataques continuaram a existir muito graças à rivalidade Bartali-Coppi, com o famoso ataque de Fausto Coppi no Galibier, numa etapa que acabava em Sestrières (tenho uma fotografia emoldurada deste acontecimento no meu quarto:)).
Na década de 60 e de 70, o ciclismo continuava a ser uma loucura comparado com o ciclismo de hoje. Em relação a este período, tendo em conta o que pesquisei e o que já conhecia, marcou-me a etapa com final em Pra-Loup ganha por Bernard Thévenet, depois de recuperar dois minutos para Eddy Merckx e ainda lhe ganhar mais dois minutos. Lá está, uma etapa composta por ataques de longe e reviravoltas inimagináveis. Também me marcou os ataques de Poulidor, saindo sempre em desvantagem depois do contrarrelógio, sendo por isso obrigado a atacar de longe, nomeadamente a história em Puy-de-Dôme, onde Poulidor e Antequil se tocaram diversas vezes durante a subida e o cansaço de ambos era tanto que não sentiram os toques.
Na década de 80, Bernard Hinault foi o grande protagonista destes ataques, destacando-se o ataque de longe no Passo dello Stelvio, ataque este que lhe rendeu a vitória no Giro d'Italia em 1980 e o ataque de longe na etapa do Tour de France de 1986 na tentativa de destronar o líder desse Tour e seu companheiro de equipa, Greg LeMond.
Na década de 90 e no início da década de 2000, destaca-se o grande Marco Pantani. Foram tantos os seus ataques longínquos que nem me atrevo a enumerá-los. Mais um ciclista que saia prejudicado dos contrarrelógios, dando tudo na estrada para recuperar o tempo perdido. Felizmente, venceu um Tour e um Giro, tendo capacidade para ter vencido muito mais.
Também neste período, com Lance Armstrong líder da Discovery, a equipa tornou-se na primeira equipa a investir na investigação para a descoberta de novas tecnologias associadas ao ciclismo, como os capacetes de contrarrelógio. Como consequência disso, tornou-se na primeira equipa dominadora do Tour, tendo por isso meios para perseguir eficientemente este tipo de ataques.
Depois disso, destacou-se o ataque longínquo que, depois de perder cerca de 10 minutos no Col de la Croix de Fer numa etapa com final em La Toussuire, rendeu a Floyd Landis a vitória no Tour de France em 2006. Michael Rasmusssen também se destacou neste campo, integrando fugas, conseguindo vitórias com ataques a mais de 100 kms do fim, como por exemplo, no Tour 2006 em Mulhouse! Este instinto quase lhe deu uma vitória no Tour, não tivesse sido apanhado nas malhas do doping já na terceira semana desse Tour, passando a liderança para outro grande protagonista no campo destes ataques: Alberto Contador. São imensos os ataques de longe que o espanhol protagonizou, ainda nos dias de hoje, sendo usualmente perseguido pela equipa dominadora da década, a Sky de Froome. Juntamente com Vincenzo Nibali, estes são os dois nomes que mais ataques deste género têm protagonisado nos últimos anos. Também de destacar os ataques de longe de Alexandre Vinokourov, em terreno plano e apontar dois futuros atacantes de longe: Fabio Aru e Nairo Quintana, o primeiro mais que o segundo.
Por fim, gostaria de destacar a etapa do Galibier em 2011 no Tour de France, onde Andy Schleck atacou a cerca de 60 kms da meta, chegando a possuir 4 minutos e meio sobre os favoritos, liderados por Cadel Evans, vencedor desse mesmo Tour. Esta etapa foi considerada inclusive por alguns membros do fórum como a melhor etapa num Tour de France que já se assistiu nos dias do presente.
Em conclusão, espero que tenham aprendido mais sobre a história deste tema. Só me resta desejar que este legado dos ataques de longe continue enquanto houver ciclismo. Espero estar de volta na próxima quarta-feira, onde irei falar sobre a questão dos motores nas bicicletas que tanta polémica têm dado.