Bom dia!
Este espaço está de regresso ao fim de mais de um mês. Hoje, o tema central vai ser a análise a uma questão que tem sido colocada ao longo de toda esta época, motivada esta colocação pela fraca qualidade, a meu ver e também a ver de muitos adeptos do ciclismo, das clássicas das Ardenas e do Tour de France. "Terá o espetáculo existente no ciclismo tendência para diminuir nos próximos anos?". É a esta questão que pretendo responder, ou pelo menos tentar, nesta crónica de hoje, aproveitando para fazer a ponte com a antevisão das grandes voltas do próximo ano.
Em relação à primeira questão, temos que analisar um pouco as corridas nos últimos anos e medir, por assim dizer, o nível de espetáculo que existiu nelas. Não vou fazer isso aqui (se quiserem façam nos comentários), mas podemos notar que este apresenta uma tendência de descida, sendo por vezes bastante irregular por depender de outros fatores como o percurso da prova e a qualidade, os objetivos e a forma de pensar dos ciclistas e das equipas que participam e como tal, novas equipas e novos ciclistas podem inverter esta tendência. Podemos considerar dois grupos: os conservadores e os agressivos (não no sentido de conflituoso). Para não haver mal entendidos, digo já que não é pretendido fazer nenhuma referência política com esta nomenclatura.
Os agressivosNesta década presente, todos temos que concordar que surgiram muitos jovens agressivos, caso de Peter Sagan, Esteban Chaves, Fabio Aru, Steven Kruijwsijk, Ilnur Zakarin, Romain Bardet, entre muitos outros, para não falar de outros nomes mais veteranos como Alberto Contador, Vincenzo Nibali, Ryder Hesjedal ou Philippe Gilbert. A agressividade que a Astana apresentou no Giro d'Italia acabou por levar um Vincenzo Nibali que partiu para o 19º dia a 4:43 da liderança e no último vencia com 52 segundos de vantagem. Também a Orica-BikeExchange se apresentou muito agressiva na Vuelta a España deste ano, atacando com Simon Yates e Esteban Chaves de longe em etapas de alta montanha, conseguindo levar o colombiano ao pódio, vem combater esta tendência e estas duas equipas podem ser essenciais para o espetáculo na próxima época. Estes dois eventos fizeram-nos lembrar o lado positivo de ser atacante na estrada.
Os conservadoresNum estilo mais conservador, podemos incluir Chris Froome (apesar deste conseguir ser bastante atacante quando não lidera uma prova), Nairo Quintana, Alejandro Valverde, Joaquim Rodriguez (que se irá reformar), Tejay Van Garderen, Rafal Majka, Richie Porte, Louis Meintjes, entre outros. Para ficar bem claro, não pretendo difundir nenhuma mensagem política com o uso desta nomenclatura. No campo das equipas, podemos considerar o surgimento da Sky como um marco importante no regresso do conservadorismo às grandes voltas. A artilharia (Wout Poels, Mikel Nieve, Sergio Henao, Geraint Thomas...) e o poder de dominação da equipa britânica, em conjunto com o conservadorismo promovido pelos diretores desportivos, obrigados pelos
sponsors gananciosos, contribui para que tivéssemos um Tour de France ruim, na minha opinião.
As grandes voltasGiro d'ItaliaNão escondo que fico contente ao verificar que o cada vez mais homens da geral estão a escolher o Giro e a Vuelta. Só no Giro, vamos ter Fabio Aru, Vicenzo Nibali, Rafal Majka, Thibaut Pinot, um trio de poderosos gregários de Froome no Tour deste ano que vão tentar a sua sorte (Mikel Landa, Geraint Thomas e Wout Poels), Nairo Quintana, Tejay Van Garderen, Ilnur Zakarin, Pierre Rolland, Domenico Pozzovivo, Bauke Mollema e Steven Kruijswijk. Deixei o holandês para último porque queria falar um pouco sobre a sua situação. A minha teoria é que Kruijswijk ainda não recuperou psicologicamente do que lhe aconteceu este ano no Giro (todos se recordam dessa etapa repleta de emoções, em que Nibali chorava de alegria depois de cruzar a meta e vencer, Chaves sorria porque tornava-se líder e Kruijswijk sofria por fora e chorava por dentro). Na Vuelta verificou-se isso mesmo. O holandês perdeu muito tempo na primeira semana e acabou por abandonar por queda, se bem que a forma de um ciclista numa grande volta não se mede por ele perder um minuto num muro de quase 2 quilómetros como o Mirador de Ézaro. Ainda temos outros que poderão vir a participar, caso de Rigoberto Uran (com a seleção de Rolland para o Giro, esta hipótese parece já mais remota), Esteban Chaves (acredito que a equipa Orica-Scott irá levar o colombiano e o Adam Yates ao Tour e deixar o Simon Yates como líder para o Giro)
Minhas previsões:
- Corrida menos espetacular que a de 2015 e 2016, mas uma boa corrida
- Vitória de Fabio Aru, que a meu ver irá recuperar da má forma deste ano
- Entre Nibali e Quintana, prevejo que um deles será forçado ao abandono e irá participar no Tour
- Uma equipa profissional continental italiana que não seja a Bardiani vai finalmente vencer uma etapa (arrisco na Wilier Selle Italia ou na Nippo-Vini Fantini)
Previsão final:
1º - Fabio Aru
2º - Nairo Quintana ou Vincenzo Nibali
3º - Bauke Mollema
4º - Rafal Majka
5º - Ilnur Zakarin
6º - Pierre Rolland
7º - Um dos três Sky que falei (arrisco em Poels)
8º - Uma surpresa
9º - Thibaut Pinot
10º - Domenico Pozzovivo
Tour de FranceÉ verdade que o Tour tem sempre um bom elenco, mas até agora este não é superior ao do Giro. Agrada-me que os homens da geral se dividam mais ao menos 50/50 entre o Giro e o Tour, mas isso não implica que o espetáculo seja dividido também dessa forma. Na minha opinião, esta divisão mais equilibrada tem base no facto de termos apenas quatro chegadas que realmente poderão fazer diferenças importantes, sendo que em duas delas não é garantido que essas diferenças aconteçam. Teremos na 104ª edição do Tour nomes como Chris Froome, Daniel Martin, Richie Porte, Andrew Talansky, a dupla habitual da Movistar (Alejandro Valverde e Nairo Quintana), Alberto Contador (apoiado por Mollema), Romain Bardet, Roman Kreuziger, Louis Meintjes, etc. No campo dos sprinters, até agora só temos Mark Cavendish, Michael Matthews (se bem que o australiano é mais um "classicomano" e não costuma disputar sprints em terreno plano no Tour), Peter Sagan e John Degenkolb, mas dificilmente nomes como Alexander Kristoff, Andre Greipel, Nacer Bouhanni e Marcel Kittel irão virar as costas à corrida francesa. Se analisarmos esta lista, verificamos que este ano o Tour está um pouco a ser posto de parte pelos trepadores. Por exemplo, os números dois de algumas equipas são homens que já vêm do Giro. Ainda não percebi muito bem o que é que a Movistar pretende obter com um Alejandro Valverde envelhecido e um Nairo Quintana cansado. E também a seleção de Alberto Contador para o Tour não faz sentido, para mim. Não é que o percurso do Giro assente totalmente bem ao "Pistolero", mas sempre tem mais contrarrelógio que o do Tour. Mas era mais inteligente fazer Giro-Vuelta, focando-se mais na prova espanhola. Mas claro, deixar a estrela da equipa no ano de estreia nesta não ir ao Tour é não fazer "the best for business".
Minhas previsões:
- Corrida semelhante à deste ano, com demasiada contenção, mas não tão má
- Vitória de Chris Froome (again), com uma Sky muito inferior à deste ano, sendo esta vitória mais por mérito próprio
- Kristoff irá voltar a vencer na prova francesa, bem como a equipa Cofidis
- As etapas com final ao sprint serão mais interessantes e imprevisíveis
Previsão final:
1º - Chris Froome
2º - Nairo Quintana ou Vincenzo Nibali (o que desistiu do Giro)
3º - Alberto Contador
4º - Romain Bardet
5º - Esteban Chaves ou Adam Yates
6º - Louis Meintjes
7º - Richie Porte
8º - Alejandro Valverde
9º - Jakob Fuglsang
10º - Andrew Talansky
Vuelta a EspañaNão irei arriscar fazer previsões para a Vuelta 2017 porque ainda falta muito tempo para esta corrida acontecer e ainda nem o percurso completo sabemos. Chris Froome, Romain Bardet, Alejandro Valverde, Fabio Aru e Ilnur Zakarin são até agora os únicos homens fortes confirmados na prova espanhola. A seleção de Bardet para a Vuelta foi a que mais me surpreendeu, bem como a de Zakarin. São dois ciclistas que não têm experiência com os habituais muros inclinados da Vuelta, mas ambos já fizeram top 10 na Liège-Bastogne-Liège e por isso não os vejo a ter dificuldades nesse tipo de terreno. Muito provavelmente vamos ver aqui aplicada a política do "tudo ou nada", com as equipas a levarem todos os seus líderes que não satisfizeram os seus diretores.
E assim concluiu o tópico de hoje. Espero que tenham gostado, expressem a vossa opinião nos comentários e espero estar de volta o mais brevemente possível.