Kronos Escreveu:
untal Escreveu:
Na minha opinião, a UE afectou negativamente uma percentagem bem pequena da população europeia. E digo-o desta forma, porque, daquilo que vejo, não conheço ninguém que tenha sido afectado negativamente, até porque quando nasci já Portugal lá estava, mas os indicadores sociais e económicos de países que eram do bloco soviético, p.e., e que agora pertencem à UE são reveladores disso mesmo.
É claro que as obrigações orçamentais consequentes da moeda única têm impacto indirecto na vida das pessoas, mas isso é provavelmente mais culpa dos governos nacionais do que da própria UE ou do seu parlamento que é para o qual votamos.
Discordo que a UE se tenha concentrado em falar para classes mais altas. A UE falou. E as pessoas ligam o que querem. Na maior parte dos casos é 0, porque as pessoas têm a sua vida, os seus problemas e pouco querem saber de política, muito menos de política a milhares de quilómetros de distância para pessoas que nem são do nosso país. Como tal, não acho que seja por isso que a extrema-direita está a ganhar pontos pela Europa fora - acho que isso se deve à falta de educação perante o boom da informação que foram as redes sociais (onde não se distingue a verdade da mentira) e, principalmente, à falta de educação no capítulo dos valores (se a malta prestasse atenção à catequese isso não acontecia
), mas isto seria uma conversa longa e, na verdade, ninguém tem a resposta. Mas já falei com muita malta de Erasmus e muitas pessoas que viajam livremente por causa do espaço Schengen e essas não tendem a ser racistas nem a menosprezar o próximo por ser de um país diferente. Talvez o intercâmbio cultural e o cosmopolitismo sejam o melhor da UE.
Em relação às tuas opções e em quem deves votar, não sei. É injusto dizer algo, porque se vai sempre puxar a brasa à sardinha como já deu para ver neste tópico. Recomendo o teste, fiz mesmo agora e deu um resultado fidedigno.
Mas isso é whataboutism. Tenho muitas vezes uma discussão com um amigo que defende que com ou sem euro, com ou sem UE, Portugal estaria basicamente na mesma, devido a terríveis decisões políticas - mais uma vez, whataboutism, mas até pode ser verdade. Só que isso distrai dos problemas de fundo desta união, que um artigo acabadinho de sair explica muito melhor que eu:
https://www.jacobinmag.com/2019/05/euro ... democraticPara não falar da regra do défice (como se défices fossem maus por si próprios) que te impede de ter um investimento público como deve ser, ou a existência de uma união monetária sem um orçamento comum (que nunca vai existir - já imaginaste dizer a um finlandês que os impostos dele servem para financiar projetos cá?). Vamos continuar na mediocridade até à próxima crise destruir tudo outra vez. E falar de Erasmus e Schengen, para mim, é tentar ver o lado positivo.
Whataboutism? Onde?
https://www.merriam-webster.com/words-a ... in-meaningTer uma opinião sobre como as coisas seriam se x, não é whataboutism, é ter uma opinião. Quanto ao artigo, tudo certo que a UE não é muito democrática, mas aqui sim, uma espécie de whataboutism, tenho a certeza que não seria escrito caso os estados-membros da UE fossem maioritariamente governados por partidos de esquerda. Sendo maioritariamente governados por partidos com veias neo-liberais, é normal que o grosso das políticas comunitárias assim o sejam. Poder escolher o Parlamento, o Conselho e a Comissão não iria excluir os partidos com veias neo-liberais de dominaram, o que me faz rejeitar completamente o último ponto do artigo, que, imo, só demonstra o quão afastados da realidade estão estes think tanks de esquerda se acham que a pessoa comum está interessada em mais democracia e em tomar mais decisões - quando na verdade quer escutar um discurso que vá de encontro aos seus valores e que lhe apazigue o medo, seja ele qual for. O medo das pessoas comuns devia ser direccionado para o grande capital, mas a terceira via e o imiscuir da social-democracia no neo-liberalismo fez esquecer as pessoas disso. Agora têm medo de malta de cor castanha, porque, não só a UE tornou a desigualdade económica em status quo, como não há guerras nem conflitos, logo não há nada para ter medo, o que faz com esse medo tenha que ser fabricado e disseminado.
Para tornar mais claro com um exemplo: por que é que a malta que tem mais de 5 milhões guardados p.e., não vota à esquerda? Porque tem medo de perder algum desse dinheiro em mais impostos. É legítimo, claro. Por que é que malta que tem 20mil euros no banco e está a pagar casa não tem um sentido de voto definido então?
Não, Erasmus e Schengen não é ver o lado positivo. São duas coisas muito giras, que o nosso país podia ter aproveitado melhor, mas, mais uma vez, a incompetência dos seus políticos fez com que o boom do turismo que Erasmus e Schengen amplificaram fosse tremendamente mal aproveitado, criando até problemas sociais em Lisboa e no Porto. O lado positivo da UE é que no continente com mais guerras ao longo da história, essas deixassem de existir. Há paz, segurança, vanguardismo nos direitos humanos, enfim.
Sinceramente, percebo-te, mas acho que estás errado. Há vários problemas com a UE, claro, mas o neo-liberalismo que a caracteriza e que nos incomoda é algo que é transversal à "meta" política da actualidade e para mudar isso não se vai lá com mais democracia ou com romper com a UE. Vai-se lá com educação, com fazer as pessoas entender qual é o real problema e que defender e lutar pelo próximo é também defender-me e lutar por mim. O caminho é longo, mas faz-se caminhando.
edit: nabo, o cosmpolitismo da UE é, de facto, mais aproveitado por pessoas que estão em centros urbanos. De vez em quando vou a Penedono e são 2 horas para ir sem paragens - uma pessoa do interior tem mais dificuldades para viajar ou para até ir ao Porto das duas de letra com um gado de Erasmus. Mas isso é problema de Portugal e não da UE. Se eu quiser ir à Polónia, p.e., não estou confinado a visitar duas grandes cidades como aqui, posso ir para o Norte ver Gdansk; para o sul ver Cracóvia, para o Oeste ver Wroclaw, ir à capital, a leste, Warsaw. Lodz e Poznan têm cada uma mais de 500,000 pessoas e há imensas outras cidades. Cidades aleatórias da Polónia são sujeitas ao cosmopolitismo da UE, porque o ordenamento do território assim o permite. Aqui não, mas é claro que a culpa não é da UE.