@dberkie e Alaska,
Dizer que ele é um músico não é menosprezar a transcendência da sua arte para outras. Claro que o Dylan tem valor literário, e um valor enormíssimo na influência sobre a construção lírica em tudo o que veio. Só não acho que isso o faça mais habilitado que qualquer outro poeta. E muitas coisas que apontas aí dberkie, são influências principalmente musicais, como o não repetir fórmulas, o ter mudado para a guitarra eléctrica, etc. Tais características não podem ser tidas em conta num prémio Nobel e, obviamente valorizando o Dylan, as letras dele são indissociáveis da música.
Se existisse um prémio Nobel da Música, ninguém consideraria o Dylan elegível para o da Literatura. E, como digo no meu texto, espero então que agora atribuam prémios a argumentistas.
Alaska Escreveu:
Nao vou entrar neste tema até porque eu dou muito pouco valor a seja que prémios for relativamente a qualquer tipo de arte visto que arte será sempre subjectiva. A mim dá-me literalmente igual quem ganha qualquer desses prémios, porque nunca na vida vou basear uma opiniao minha em qualquer opiniao de qualquer crítico que ganha a vida fazendo da arte ciência.
O problema é que, para que eu possa apreciar algum livro traduzido na minha língua, alguém precisa de o traduzir e, ao entregar o Nobel a alguém com menos presença em mercados internacionais, é possível fazê-lo chegar até mais pessoas, até nós. Ora, todos sabemos que o Dylan não precisa disso.
Sem dúvida, o valor que eu dou a estes prémios também é bastante pouco, é sempre subjectivo dizer que alguém é melhor que outro, e não é isso que se quer de uma arte subjectiva. Ainda assim há certos critérios objectivos que são possíveis de analisar que, não tornando algo universalmente válido, permitem uma tentativa de comparação entre diferentes artistas. Não estou a dizer que isso é aplicável a este meu texto em relação ao Dylan, mas acho que nem tudo é subjectivo.
E o Bruno Vieira Amaral, no Observador, também levanta questões bastantes interessantes com as quais concordo, nomeadamente a relativa aos cantautores que não são de língua inglesa. Aí está o link:
http://observador.pt/2016/10/13/bob-dylan-nao-merecia/Sadinus Escreveu:
3ª - Literatura não é só livros de 500 páginas. Eu acredito que tudo o que foi alguma vez escrito pode ser considerado literatura, desde que seja escrito com rigor. Dou o exemplo das cantigas de amigo, de amor e de escárnio e maldizer da Idade Média. São consideradas literatura medieval e como o nome indica, incluem letra e música. Se existissem prémios destes na Idade Média, aposto que os trovadores que compuseram estas letras seriam os primeiros a vencer.
Nem nunca disse que o era. Literatura é tudo, incluindo ensaios, poesia (e dentro desta, a música). Fiquei super feliz com a atribuição do Nobel à Svetlana Alexievich, uma escritora de não-ficção que não conhecia e cuja vitória no Nobel me permitiu ter acesso às suas obras traduzidas para português. Mas se as letras de canções são poemas, e eu acho que o são, o Dylan estará a competir directamente com todos os poetas vivos. Num Prémio que premeia tão poucas vezes poetas, parece-me quase gozar a cara de todos os poetas existentes ao ir buscar alguém à música (por muito que a sua qualidade transcenda essa área).
@Wheels
Sobre o Churchill, não tendo lido as suas obras históricas, que obviamente terão bastante valor, mas, num prémio que se entende como carreira, premiar a carreira do Churchill pela influência na literatura parece-me... inadequado.