xanuh Escreveu:
Vino Escreveu:
Para esta semana o tema escolhido (pelo peste) é o seguinte : O que acham que é preciso fazer/acontecer para que a austeridade mundial acabe?
Comunismo FTW! O osmo que explique o resto. Btw, a austeridade não é Mundial..
Damn right!
Pegando nalgumas palavras de um texto traduzido de James Corbett, veremos o que significa austeridade:
"É um velho truque exprimir uma realidade penosa como uma platitude floreada. Ouvimos isto o tempo todo nas nossas vidas diárias e a maior parte das vezes sabemos como ler nas entrelinhas quando alguém tenta fazer isto connosco.
Quando o médico lhe diz que "Isto só vai doer um pouco", você sabe bem que será um procedimento penoso. Quando o seu patrão lhe diz que tem um novo projecto excitante para si, você sabe que está prestes a ficar atado à tarefa que mais ninguém quis fazer. Quando um vendedor lhe conta que um carro usado precisa algumas reparações, você sabe que está na frente de um chaço.
Analogamente, quando o FMI diz a um país que tem de implementar "austeridade" a fim de se livrar de uma crise financeira , também aqui há um fosso abissal entre a linguagem e a realidade.
"Austeridade" é daqueles termos orwellianos que foram injectados no nosso discurso político precisamente porque é uma palavra que soa bonito para uma realidade muito penosa. "Austeridade" implica disciplina, auto-controle, mesmo nobreza. A "austeridade" é prudente. A "austeridade" é modesta. A "austeridade" é uma virtude. Ela é um fim em si mesmo."
E como o Untal já referiu, o sistema económico mundial actual, o capitalismo, tem crises sistémicas, faz parte do sistema, que forçam os países a adoptarem as famosas políticas de austeridade. Visto que no capitalismo é impossível escapar a estas crises, então os seus defensores criam esta tal virtude que é a austeridade, porque se não houver uma virtude nas fases de crise, então seria pouco ético apoiar um sistema económico que periodicamente lança mal-estar sobre as pessoas. A austeridade existe porque com este modelo económico tem que existir, logo para a terminar há que mudar de modelo económico.
Mas há quem defenda que a austeridade existiria sempre em qualquer modelo, porque simplesmente não há recursos suficientes para dar a todos, ainda por cima com o número de pessoas a habitar este planeta. Simplesmente não há como gerar dinheiro suficiente sem que o ganho de uns se traduza na perca de outros. Isto, no entanto, é falso. Analisando o progresso da civilização humana, a produção e consumo de recursos e o valor que daí advém tem sempre aumentado e quase como uma exponencial. As supostas escassez de recurso sempre foram ultrapassadas pelo progresso tecnológico. Por exemplo, quando a produção do açúcar da Madeira quebrou em finais de século XV, pensamento inovador e nova tecnologia abriu horizontes para a produção de açucar em São Tomé, e quando aí começou a quebrar, descobriu-se o Brasil. Haverá sempre maneira de contornar os problemas recorrendo à tecnologia, se o universo é infinito, também é a sua matéria e energia, ou seja, recursos infinitos, e a sua produção e consumo acompanhará, podendo chegar a todos e escusar a austeridade.
Passando este discurso para algo mais concreto dos dias de hoje, basicamente o que quero dizer é que actualmente dispomos de recursos e tecnologias suficientes para que ninguém passe fome, sede, para que tenham um tecto, não vivam literalmente na sua oops ou morram por falta de medicamentos e de tratamento, tenham um emprego, tenham uma formação entre outras coisas, o que já é um princípio base para não se viver em austeridade, penosamente.
E à questão de que se possuimos a tecnologia e os recursos, porque é que há pessoas a passar mal e o dinheiro e os bens não chegam a todo o lado e a todos? É porque a escassez é artificial, algo que deriva também do sistema económico actual, porque este beneficia quem tem algo para vender, e como todos sabem, o que é raro é mais caro, Djaló's há a pontapé, Messi é só um. Logo, quem vende, quer sempre vender a um preço mais alto, logo a sua oferta será sempre definida de modo a não desvalorizar o produto que está a vender, daí os diamantes terem um valor totalmente desproporcional à sua rareza ou os medicamentos serem demasiado caros para a maioria dos africanos, porque tornar tanto os diamantes como os medicamentos disponíveis a todos não seria lucrativo para quem os vende. Boa parte da austeridade mundial é provocada pelo objectivo de ter lucro que limita a disponibilidade dos recursos. Talvez isso fosse de mudar...
E também a tecnologia é afectada por isto, porque se eu vendo algo, e vou ganhando muito dinheiro com isso, tenho que garantir que não exista outro vendedor com um produto mais eficiente que o meu na tarefa que desempenha, porque isso significaria uma quebra de vendas. É o que acontece com a indústria petroleira a criar barreiras ao desenvolvimento tecnológico desde o início do século XX a fontes renováveis e limpas, porque é da maneira que afasta a competição, limita a venda dos barris, com aliado à necessidade do petróleo, faz aumentar os preços, mais lucro para eles, mais austeridade para as pessoas que enchem os depósitos do carro e das fábricas que precisam de energia para meter as máquinas a funcionar.
Isto da competição também tem influência no estado de coisas actual. A filosofia vigente dá hurras ao empreendorismo e quanto mais o número de empreendores num projecto se aproximar de 1 melhor, apesar de por todo o mundo, existirem empresas, fábricas, regiões e até países que insistem em apostar em sectores em que se sabe quase à partida que vão falhar, como ao lado de restaurantes muito bons e do agrado das pessoas, haver outro restaurante que muda de gerência de 6 em 6 meses. A competição económica é importante no auxílio á inovação e à elevação do nível de vida das pessoas, como era a ambição de Adam Smith, mas a cultura actual está tão embrenhada pelo interesse-próprio que em vez de competição tenta-se aniquilar a concorrência, investem-se em sectores completamente saturados e falha-se muita vez as necessidades das populações, sendo que a prioridade nº1 do Bangladesh não deverá ser bugigangas sendo no entanto o país com maior percentagem de vendedores ambulantes. Tal como no exemplo que referi, a Madeira e São Tomé não se eternizaram como produtores cada vez menos produtivos de açúcar, renovou-se a sua produção e essa renovação não aconteceu por "mãos invisíveis" nem por tendências dos mercados, foi planeada. E, precisamente para garantir uma eficiente distribuição de bens e serviços, é necessário haver planeamento. Um dos problemas actuais, é que o planeamento, seja por poderes locais ou centrais, têm-se resumido demasiado a linhas gerais e orientadoras e no máximo, incentivos, quando os países que mais crescem actualmente, sendo todos eles capitalistas, têm uma gestão muito mais rígida na economia. Porque com a redução do planeamento, há mais gente a ficar para trás porque a teórica perfeição da eficiência dos mercados sempre resultou em desiquilíbrios, crises e austeridade.
Portanto, expondo aqui algumas das razões para a existência de austeridade, algo que pode ajudar a terminar com ela é o progresso tecnológico, haver mais controlo da sociedade sobre as actividades económicas e arranjar um modelo económico que não seja centrado na obtenção de lucro, no interesse próprio. Não existe capitalismo sem austeridade, para se buscar um mundo sem austeridade, há que abolir o capitalismo primeiro.
Mas yah, comunismo é bué a solução.