Kazam Escreveu:
untal Escreveu:
(se for preciso enumero exemplos de merdas que eles aprovaram para atacar o sistema nacional de saúde)
Estou curioso quanto a isto, podes elaborar? (Não estou a ser irónico)
Tinha escrito um post muito grande, mas o fórum deu-me logoff quando ia a postar. Serei mais breve, porque não quero voltar a pesquisar para dizer com exactidão os números em concreto (estava no PC do trabalho anteriormente). A ideia será a mesma.
O II Governo Constitucional de Portugal foi formado pelo PS em coligação com o CDS. As coisas não correram muito bem, mas a introdução do SNS no Diário da República fez com que o CDS abandonasse a coligação, pondo fim ao Governo. Um ano depois, 1979, na votação das Bases Gerais do SNS, PSD e CDS votaram contra. Isto é uma questão ideológica, não há almoços grátis, não há saúde pública gratuita, etc.
No último governo de coligação PSD/CDS, os cortes na saúde foram de cerca de 1000M€. Paralelamente, dou-te o exemplo da venda mandatada pelo governo da data da HPP Saúde (grupo pertencente à CGD) por cerca de 80M€. Ora, a HPP Saúde detinha 6 hospitais em todo o país, muitos deles construídos de raiz muito recentemente e o balanço total da operação da HPP Saúde foi à data da venda bastante positivo. Repito, a venda foi forçada. Este grupo não pertencia directamente ao SNS, mas dá para entender a carga ideológica das pessoas que a forçaram.
Fecharam-se hospitais e maternidades: a Alfredo da Costa é um exemplo, o caso mais mediático.
A OCDE afirmou que Portugal cortou na saúde o dobro do que estava acordado com o FMI.
Certamente se lembram que na última legislatura, PSD e CDS queriam retirar a expressão "tendencialmente gratuito" do artigo da Constituição que se referia à saúde.
É claro que o SNS não funciona bem em alguns casos. Há filas de espera enormes em vários locais. O presidente da CA do Hospital S.João, disse em 2013, que cerca de 3000 cirurgiões fazem uma cirurgia por semana. O Estado gasta uma enormidade de dinheiro a pagar a privados para que doentes possam fazer a hemodiálise, ao contrário do que se faz em outros países da Europa. É um problema transversal a Portugal: os portugueses trabalham mais horas do que os outros, mas o produto final é menor. Para resolver os problemas de fundo do serviço da saúde era preciso capacidade, foco, seriedade, coisas que são parcas em Portugal, mas especialmente na classe política.
Ser contra ou a favor da eutanásia é uma opinião. Mas eu não ouvi nenhum bom argumento contra, especialmente no Parlamento. Falou-se de cuidados paliativos, o que é justo (descontando a hipocrisia), mas o problema é o mesmo, porque por muito bons que sejam esses cuidados, há a possibilidade de existirem pessoas que continuam em sofrimento. E falou-se pouco mais, também porque alguns partidos tentaram travar o debate na especialidade sobre esta matéria. É portanto por puro fundamentalismo que estas propostas não foram aprovadas, um pouco à semelhança do que aconteceu com o aborto, onde diziam que os abortos iam aumentar, o que não aconteceu e mais ninguém faleceu a tentar abortar. Ao CDS, por exemplo, não interessa investimento no SNS, nunca interessou, mas serviram-se dessa fachada para tentar moldar a opinião pública para o seu fundamentalismo. A hipocrisia é revoltante. É revoltante saber que existem pessoas em agonia, com doenças incuráveis, sem apoio, sem a capacidade para limpar o próprio cu e que se querem por fim ao sofrimento têm que aguardar por algo que não se sabe bem o quê. Os mesmos de sempre votaram contra a interrupção voluntária da gravidez, contra o casamento homossexual e agora contra isto, entre outras coisas. Faz-lhes confusão a liberdade.