Kazam Escreveu:
Pessoal que está mais por dentro da política (que não é de perto nem de longe a minha área de conforto). São capazes de me fazer um apanhado mais ou menos consistente das visões de cada partido/lado quanto à Igreja (Cristã principalmente, mas não só) quer como entidade quer como partilha dos valores promovidos pelo Cristianismo?
Em Portugal, nenhum partido/lado estará contra a Igreja (e aqui falo de Católica, dado ser a mais expressiva), o que muda é a importância relativa que se lhe dá, e a forma como se aborda a religião.
O cristianismo em Portugal é associado a uma visão mais conservadora/de direita: a Igreja Católica é ela própria uma instituição conservadora (basta ver as opiniões gerais sobre aborto/casamento gay). É daí natural que os partidos de direita dêem-lhe algum relevo. Ser católico funciona quase como uma validação de que és "boa pessoa" e alinhas por um certo tipo de
valores cristãos (esta última parte é provavelmente a mais importante) - valores esses que incluem termos como "natural". Não é à toa que a Assunção Cristas gosta de dizer muitas vezes que vai à missa - a base de apoio do CDS não desgosta disso. Além disso, e eu até posso estar enganado, mas para muitas famílias ir à igreja aos domingos até é um momento importante de convívio familiar (a importância da família é outro traço importante aqui).
Por outro lado, e dando um exemplo do lado oposto do espetro, tens o PCP, que sendo marxista (uma ideologia "laica") se foca no lado social da própria religião quando fala dela (poucas vezes) - houve um relevante movimento católico na luta contra o Estado Novo, e muitos religiosos militam no PCP (padres inclusive). Se já viste Narcos lembrar-te-ás da malta da Teologia da Libertação, um movimento relevante na América do Sul que juntava o catolicismo com uma visão claramente de esquerda - Jesus era, afinal de contas, um protetor dos oprimidos.
Ou seja, em relação aos valores do cristianismo (solidariedade, amor ao próximo, acolhimento, perdão, justiça), nenhum partido estará contra. A questão é o que se faz depois, em termos de políticas, com essa base em mente.