Kronos Escreveu:
Sim.
Cada um sabe de si. Eu como é óbvio nunca votaria em partidos de ideologia marxista-leninista, o que por inerência pressupõe partidos cujo objetivo passa pela tomada violenta do poder e conseguinte extinção do seu carácter político, algo por si só incompatível com a participação no jogo eleitoral.
Depois, lendo o programa encontras várias referências anti-europeístas e anti-integracionistas. Não é à toa que a palavra "cooperação" é tantas vezes repetida ao invés da palavra "integração".
Depois tens também objetivos deste género que limitam a União Europeia em si, sem estar a fazer uma leitura exaustiva:
-A rejeição de “recursos próprios” da União Europeia e do projecto de “orçamento da Zona Euro” que abandonam o princípio da contribuição dos Estados em função do seu Rendimento Nacional Bruto (RNB) e da função redistributiva do orçamento comunitário;
-A salvaguarda da competência soberana dos Estados, nomeadamente quanto à sua política fiscal; a rejeição da instituição de ‘impostos europeus’;
-A revogação do ‘Tratado Orçamental’, da ‘Governação Económica’, do ‘Semestre Europeu’ e do ‘Pacto de Estabilidade;
-A rejeição do aprofundamento da União Económica e Monetária e a adopção de medidas com vista à sua dissolução;
-A defesa do princípio da igualdade entre Estados – um país, um voto –, com o direito de veto em todas as questões consideradas de interesse fundamental para a defesa do direito ao desenvolvimento, da soberania e independência nacional; a defesa da representação permanente de cada um dos Estados, em pé de igualdade e com direito de voto, na Comissão Europeia;
-A reversibilidade dos tratados, políticas e normas da União Europeia – começando pela revogação do ‘Tratado Orçamental’ e do Tratado de Lisboa –, tendo em vista o progressivo ajustamento do estatuto de cada país à vontade do seu povo e à sua real situação, salvaguardando as suas especificidades, admitindo as necessárias cláusulas de excepção;
-O respeito pela soberania nacional e a democracia, pelo direito dos povos a determinar o seu destino; o reforço da capacidade de decisão dos parlamentos nacionais sobre as políticas da União Europeia;
Numa passagem rápida pelo programa do PCP também sem grande exaustividade:
"Respondendo criativamente com propostas, soluções e luta às realidades e às mudanças, o PCP afirma e confirma a sua identidade própria. Como partido da classe operária e de todos os trabalhadores estreitamente ligado às massas. Como partido que luta por uma sociedade socialista.
Como partido que tem como base teórica o marxismo-leninismo, materialista e dialéctico, necessariamente criativo. Como partido com princípios e prática de profunda democracia interna e de unidade de orientação e acção adquiridos no
desenvolvimento próprio do centralismo democrático. Como partido patriótico que é simultaneamente um partido internacionalista, solidário e cooperante com a luta dos trabalhadores e dos povos dos outros países, com os comunistas e outras forças revolucionárias e progressistas do mundo."
"A adesão de Portugal à CEE, contra a qual o PCP justamente lutou e cujas implicações negativas previu, criou acrescidos obstáculos a uma política democrática, integrou-se no processo de destruição de conquistas de Abril e inseriu o País numa dinâmica gravemente lesiva do interesse nacional."
"A natureza do processo de integração capitalista europeu - instrumento do grande capital, dos monopólios, das transnacionais e das grandes potências ao seu serviço -, a política governamental seguida, os critérios de aplicação dos vultuosos recursos financeiros recebidos, sem prejuízo da realização de muitas infra-estruturas, globalmente, não contribuíram para a modernização do aparelho produtivo nacional, da atenuação das assimetrias regionais e do atraso relativo do País em relação aos outros países da CEE/UE, tendo, pelo contrário, contribuído para a destruição do aparelho produtivo e a acentuação do despovoamento e da desertificação de vastas zonas do País, sacrificando as bases indispensáveis a um verdadeiro processo de desenvolvimento económico e social."
"O Mercado Comum (nomeadamente a circulação livre de mercadorias e capitais) já continha para Portugal, dado o seu atraso relativo, elementos desfavoráveis ao desenvolvimento e novas limitações à independência. A evolução num sentido federalista da integração europeia nos planos económico, político e militar, o Mercado Único, as políticas comuns, o Tratado de Maastricht e a União Económica e Monetária (UEM) com a adopção do Euro, o Pacto de Estabilidade e a criação do Banco Central Europeu (BCE), a Política Externa e de Segurança Comum, o Tratado de Lisboa, o Tratado «orçamental», o recurso aos mais diversos instrumentos e a política dos sucessivos governos nacionais estão a transformar Portugal num Estado subalternizado, dependente e periférico, com uma política crescentemente decidida contra os interesses do povo e do país, por instâncias supranacionais dirigidas no fundamental, pelo capital transnacional e por um directório de Estados mais fortes e mais ricos, afectando gravemente a soberania e independência nacionais."
"O PCP continuará a pautar a sua intervenção pela defesa dos interesses nacionais, pelo combate à União Europeia como bloco político-militar imperialista, pela activa cooperação e acção comum ou convergente do movimento operário e popular, dos partidos comunistas e de outras forças democráticas e progressistas dos países da Europa.
Acho que é suficiente. Se para ti isto não é uma corrente anti-europeísta e se por sua vez os objetivos são coerentes tanto com a participação na União Europeia como com a ideologia marxista-leninista, não há muito mais que eu possa dizer.