Kazam, como te tinha dito, o texto que estava a escrever era sobre o mesmo tema. Ficando tu perto da linha de fogo do meu texto.
Já vais perceber porquê:
Anti-tabagismoPor estranho que pareça, o vício do tabaco é uma das questões mais fracturantes da nossa sociedade. Coisa que não falta neste mundo são grupos entre pessoas que não são amigos ou família que se juntam por partilharem coisas em comum, mas quando chega ao assunto do tabaco, normalmente o assunto divide-se entre os pros e os antis, até porque é difícil haver grupos onde não existam fumadores ou não-fumadores.
Os promotores de restrições ao consumo de tabaco costumam andar à volta de 3 argumentos: 1) não tenho que apanhar com o fumo e o cheiro do tabaco; 2) faz mal à minha saúde e 3) as pessoas não querem saber se estão a incomodar com o seu fumo.
Creio que estas ideias foram surgindo por esta ordem que expus. Vou agora abordar cada um destes argumentos.
Não tenho que apanhar com o fumo e o cheiro do tabaco.
Creio que esta frase ou variantes apresentadas são o fundamento de todos os argumentos usados. Um estado pessoal, subitamente torna-se razão para legislação. A resposta a isto é simples: se não gostas, baza! Se cada hábito que outros têm que não apreciamos tem que ser regulado, o sketch dos Castigadores da Parvoíce torna-se bastante real.
Infelizmente, parece que nos últimos tempos as pessoas que se proclamam e são proclamadas como liberais no sentido que querem avançar a sociedade têm-se tornado bastantes inquisidoras. Não fumes! Não bebas! Não comas porcarias! Passam por cima da intenção, da pedagogia e consciencialização e partem direitos à agressão verbal, pintando as pessoas que o cometem como imorais e mais perigoso ainda, têm uma sede de proibir e regular o comportamento das pessoas tal como é pintado o Governador da Califórnia Jerry Brown na música “California Über Alles” (referência explícita ao hino nazi) dos Dead Kennedys onde é chamado de “zen fascist” e onde as suas políticas que creio poderem ser aplicadas aos entusiastas da regulação do tabaco são metaforizadas com frases como “you will jog for the master race”, “mellow out or you will pay” e “die on organic poison gas”.
Parece haver uma mentalidade nestes grupos de forçarem a sociedade como um todo a aderir aos seus hábitos. Nem lhes interessa a ideia de acordar em discordar, e assumir uma coexistência pacífica, onde possam haver espaços para fumadores e não-fumadores. Não! Todos os ambientes têm que ser confortáveis a não-fumadores, os únicos que têm algo a perder são os fumadores que cometeram o pecado do prazer oral. Tão pouco interessa a estas pessoas, que outro dos seus ideais favoritos, direito à propriedade, entra em colisão com estas regulações, dentro de estabelecimentos privados, onde o proprietário é obrigado a ceder o seu poder como tal a favor de terceiros. Ainda bem que o cheiro a oops não incomoda estas pessoas, senão tínhamos que andar a mudar auto-estradas para evitarem vacarias e estábulos.
Obviamente que eles raramente se expõem assim, até porque as pessoas lhes diriam para irem tomar no cu, por isso encontraram um método para serem bem aceites na opinião pública:
Faz mal à minha saúde
À do fumador e do não-fumador. Pode parecer um argumento inocente, mas existe uma coacção por trás. É uma tentativa de culpabilizar o fumador pelos seus problemas de saúde e pelo mal dos outros. É mais um reforço da imoralidade do acto de produzir CO2 e outros químicos. Mas como o meu pai me disse uma vez “E o fumo dos carros, não fazem mal?”, realmente, comparando a emissão de fumos dos carros e do cigarro, um carro projecta muito mais gases nocivos, e nunca na vida ouvi falar em nuvens de smog provocadas por fumo de tabaco, mas de carros e fábricas sim. As cidades onde existem alertas de excesso de monóxido de carbono, dióxido de enxofre e outras tais, nunca é atribuída aos cigarros e derivados. No entanto, não vemos estas pessoas lutarem com tanta paixão pelos carros eléctricos, e o seu apoio a indústrias verdes não passa disso, apoio, o inimigo mais perigoso para a saúde pública é um cilindro mais magro que os dedos da minha mão.
Mais uma vez, se o não-fumador é assim tão preocupado com a sua saúde e bem-estar, vá para outro local onde ninguém esteja a fumar. Recomendo o ginásio onde, à partida, não deverão existir muitas pessoas a fumar, um local que certamente frequenta para se manter na linha. Obviamente pessoas destas não são consumidoras de carnes vermelhas, não metem sal na comida, cumprem 8 horas de sono, e sabem que à noite não é altura para grande actividade, não bebem álcool nem café, tomam banho de água fria, não se sentam em sanitas muito altas não vão ter o azar de ter cancro no cólon, conduzem um Prius nas zonas rurais mas sem animais por perto, para evitar TODO o tipo de gases, enfim todas as precauções para serem saudáveis. Se fazem alguma destas coisas, entre outras que podem levar a problemas de saúde, também aguentam o fumo de um cigarro de vez em quando.
Quanto aos problemas auto-infligidos ao fumar que estão bem assinalados nos maços, a verdade é que desde que nascemos são mais acções que temos que encurtam a vida das células do que as acções que as prolonga. Todos nós temos hábitos prejudiciais à saúde, desde a posição em que estamos sentados até ao lavar dos dentes. Se o fumador sente que é um perigo a mais, deixa de fumar, se não, é deixar continuar. Por isso, esta culpabilização não faz sentido a partir do momento em que o agente que se queixa não é coerente na sua abordagem a todos os elementos que lhe podem prejudicar a saúde, como nos mostram os criadores do South Park ao pegar no realizador Rob Reiner, fortemente apologista de restrições ao tabaco e fortemente pesado e mostrar a hipocrisia subjacente. Uma vez que este argumento cai, fica novamente a nu a simples intenção de regular o comportamento das pessoas pelo simples desagrado pessoal.
Mas, numa tentativa de mascarar as tendências manipulativas, surge ainda outro argumento:
As pessoas não querem saber se estão a incomodar com o seu fumo
Todos nós já testemunhámos um gajo num restaurante do alto da sua prepotência a sacar de um charuto e fumar com um à-vontade completamente alheado se estão crianças, grávidas ou pessoas visivelmente incomodadas com o fumo. Já vimos este personagem em muito lado. Também já vimos o seu irmão gémeo, que apenas troca o charuto por caralhadas. E todos os irmãos que se seguem com hábitos pouco adequados a certos espaços. Tal como Einstein disse - Existem apenas duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. No entanto, só o que fuma é que incorre (ou deveria incorrer) em acto criminal. Não só ele, como todos os outros fumadores que já de si tentam impor uma disciplina sobre si mesmos para tentarem não incomodar os outros. É um argumento que contém a falácia da generalização. Alguns fumadores serem abusivos no seu comportamento e por isso toda uma sub-classe de cidadãos ser punida é discriminação, tal como Ice Cube nos diz “searchin my car, looking for the product, thinkin every nigga is sellin narcota”. Aliás, estas letras estão inseridas num contexto de hostilidade perante as autoridades que nasce precisamente da discriminação policial da LAPD. E as restrições ao consumo apenas atingem o mesmo efeito, hostilização dos fumadores. O idiota vai continuar a ser idiota e o fumador apanhado por tabela sente-se ostracizado. Leis que proíbem que numa taberna (onde todos os que a frequentam ou fumam ou não têm problemas com fumo do tabaco) se fume é mau para todos.
Mas como lidar com o problema então dos energúmenos que insistem em fumar com desrespeito para com os próximos? Bem, tal como para os outros energúmenos, a solução pode ser muito simples. Em vez de restrições a nível global atingindo tudo e todos da mesma maneira, algo me diz que já existia e existe o direito e autoridade de um responsável por um espaço expulsar uma pessoa desse espaço se estiver a incomodar os restantes. Aparentemente, esse direito e autoridade é suficiente para expulsar sem-abrigos de qualquer espaço mas não para pedir a alguém que por desrespeito ou por desatenção esteja a incomodar com o fumo do tabaco, que o apague ou o termine de o fumar fora do espaço. Se o responsável não estiver para aí virado, mas as pessoas que frequentam o espaço tiverem incomodados com a situação, o responsável é quem tem mais a perder. Basta as pessoas assim o entenderem. Assim lida-se com uma situação particular, em que apenas os que estão mal saem prejudicados.
Sem proibições, sem manipulações, sem ter que criar divisões entre as pessoas.
Para terminar, tenho a noção que apesar de falar de maneira igual a todos os que puxam uma agenda anti-tabagista, nem todos encaixam nas palavras duras que usei para os descrever. Podem não pensar assim, ou pensar que não pensam assim, mas são apologistas das mesmas medidas. E se não pensam assim ou não querem pensar assim, sempre fica este texto para reverem alguns conceitos ou fruto de apoiarem esta agenda por não pensarem tão a fundo sobre o problema, é uma oportunidade para o fazerem.
Pessoalmente, não tenho problemas com o acto de fumar, apesar de não ser fumador nem nunca ter experimentado. Acho que não é o papel do Estado regular o comportamento dos cidadãos, com a devida excepção dos casos socialmente danosos como discriminação, roubo, homicídio, violação, etc. Tudo o resto, podem ser normas interiorizadas pelas pessoas para uma maior harmonia social, algo que nos vem natural como seres sociais que somos. Algum problema local, pode ser resolvido com acção local.
Se tiverem outros argumentos que apoiem a restrição ao consumo de tabaco, e que na vossa opinião, não sejam motivado por mesquinhez ou tendências autoritárias, gostaria de ler.