tozequio Escreveu:
Hoje tenho uma história para vos contar.
Como alguns de vós sabem, sou médico e trabalho no SNS.
O trabalho na Unidade na qual trabalho exige muito frequentemente que nos desloquemos em serviço para reuniões (deslocações raramente superiores a 10 km). No entanto, muito raramente temos à nossa disposição uma viatura de serviço para as deslocações. Estas existem em todas as unidades de saúde familiar, ou seja, as que efetivamente prestam atividade clínica à população. No entanto, por incompetência e pouca vontade da Coordenadora da nossa Unidade, esta não exerce a pressão necessária para que o mesmo aconteça no local em que trabalhamos.
Assim, fomos instruídos pela direção executiva do Agrupamento de Centros de Saúde em que trabalho a que, e passo a citar "na ausência de viatura de serviço, devem os profissionais recorrer ao meio de transporte que se afigure mais económico sendo o profissional ressarcido da respetiva importância através de Boletim Itinerário, a que devem juntar justificação do meio de transporte utilizado."
Ora, isto é absolutamente pouco claro, a meu ver. Naturalmente, questionei quem de direito sobre como poderemos determinar qual o meio de transporte mais económico, e como poderemos determinar isso quando a acessibilidade dos transportes depende naturalmente das zonas para as quais nos deslocamos, sendo que naturalmente não temos de ser conhecedores dos mais variados pormenores e detalhes da rede de transportes da área geográfica na qual trabalhamos. Ademais, o meio de transporte mais económico, estritamente falando, pode não ser necessariamente o mais económico do ponto de vista funcional, já que, a aliar ao custo direto do transporte, existe o custo indireto de estar a pagar a um profissional um salário para perder horas de trabalho em transportes públicos.
Naturalmente, e como já esperava, o silêncio foi a resposta à minha questão.
Ademais, não me parece minimamente legítimo obrigar a que, na prática, os profissionais tenham de pagar do seu próprio bolso para efetuar deslocações em serviço sendo que, eventualmente, e se validado superiormente como "o meio de transporte mais económico", serão ressarcidos do custo, sabe-se lá quando. Ou seja, os profissionais vão andar a pagar para trabalhar com uma perspectiva de ser reembolsados no futuro! E, obviamente, não creio que seja legítimo ter de utilizar os meus próprios recursos económicos para efetuar trabalho em nome do estado.
A outra alternativa seria utilizar a minha própria viatura sendo que, teoricamente, seria ressarcido pelos custos. No entanto, não estou disposto a usar o meu carro para deslocações em serviço. Não só por uma questão de princípio (o carro é meu e não está ao serviço do estado), mas também porque certamente não terei qualquer tipo de proteção em caso de acidente ou dano por roubo ou afins. Para além de certamente ser um meio muito pouco adequado em plena área metropolitana, na qual muitas vezes é totalmente impossível estacionar sem recurso a parques de estacionamento pagos ou parquímetros.
Alguns profissionais irão recusar-se a efetuar atividades de prevenção da doença e promoção da saúde nestes moldes, o que poderá ter evidentes repercussões para a população da área geográfica na qual trabalho.
É assim que se encontra o nosso SNS, com cada vez menos recursos, tanto humanos como económicos, e profissionais cada vez mais desmotivados e a serem cada vez pior tratados pelas estruturas hierárquicas.
O carro avariou e não há €€€ ou a patroa é que fica com ele?
É que isso pode começar a ser a descentralização de competências a funcionar à socapa.
No CS aqui ao lado os AC's estiveram estragados por 2 Verões e teve que ser a Câmara a chegar-se à frente.