CandidoBarbosaPT Escreveu:
Davide Escreveu:
Quando entenderes que dopar-se era a ponta do iceberg do Armstrong talvez percebes porque o caso dele é muito pior que os outros.
É muito pior do que os outros porque era um tipo que esteve às portas da morte, voltou para ganhar a maior corrida de bicicletas mais vezes do que qualquer outro e inspirou milhares de doentes oncológicos. Numa altura em que "já não há heróis", como diziam os in loco, era alguém que fazia acreditar que afinal podiam mesmo existir. Quantos miúdos não viam o Armstrong como um exemplo a seguir? Eu posso falar, até porque nunca acreditei que estava limpo, tal como sempre fui adepto do Riccò, do Contador e nem por isso passei a acreditar piamente que estavam limpos. Agora, tenho a certeza que neste mundo há gente que tinha tanta inveja, que não conseguiu descansar enquanto não fez cair a lenda do Lance Armstrong. Óbvio que o homem tentou proteger o seu legado a todo o custo e pelo meio também naturalmente que pode ter prejudicado algumas pessoas, mas é o que é e não lhe guardo absolutamente nenhum rancor.
Mesmo o Pogacar ainda recentemente quando questionado deu uma resposta que é textbook Armstrong: "nunca testei positivo". Se o van Aert daqui a uns anos for apanhado com qualquer coisa, também não ficarei minimamente surpreendido e só lhe posso agradecer pelo espetáculo que proporcionou e proporciona. No fundo, eu vejo ciclismo para me entreter e para apreciar o espetáculo, não para fazer grandes juízos de valor sobre a idoneidade dos intervenientes, discutir a ética da coisa ou destratar atletas de um desporto tão brutal. Agora, quem acredita em histórias de bifes contaminados ou de asmáticos que, de repente, passam a ser melhores que toda a gente, óbvio que vai acabar desiludido.
Com o devido respeito pela doença do Armstrong, mas o número de colhões que ele tinha para mim importa zero. Toda a gente viu que dopar-se foi o menos pior que ele fazia. O gajo burlou o sistema com a ajuda da UCI, comprou favores,
e ainda perseguia quem o denunciou com o maior sorriso possível e batia com a mão no peito a dizer que estava limpo. Se os anos 90 era tara livre, se a história é linda, se todos fazima, se as pulseiras da Livestrong vendiam muito, se inspirou muita gente, se ele agora tem um podcast onde diz mal de toda a gente estou-me a cagar. O problema do Armstrong vai muito para além do doping, aliás o doping é o menor dos problemas. Porque, como tu dizes, todos faziam.
Claro que fica mal a forma como ele atacava e até processava quem o denunciava, mas o que é que ele podia fazer sendo o ciclista mais escrutinado? Ia dizer que não estava limpo, admitir que se dopava? Tinha de passar uma certa imagem e naturalmente que processar de imediato alguém que o denunciasse contribuía para isso, dando a ideia que era tudo difamação. Também para a UCI não dava muito jeito, até para a imagem da modalidade que por essa altura andava pelas ruas da amargura, que o melhor ciclista, o gajo que pela sua história e pela doença se tinha tornado na maior estrela fosse afinal de contas um batoteiro. Depois, quando mais se sobe, maior é a queda.