50 Sombras de Osmo Escreveu:
Em relação à defesa da entrada na UE e no Euro, estás então a dizer-me que nessa altura esses partidos não mentiram descaradamente sobre o que iam fazer? Dizes tu que agora é o Syriza que mente. Que piada. Epá, primeiro, continua a não fazer sentido falar sobre Syriza e UE como se fossem adversários, quando não o são, pelo menos, na óptica do Syriza. Depois, basta analisar o caso português como se vê claramente que se criou um mito à volta da UE e do Euro, sobretudo na lógica que nos ia colocar ao lado dos alemães dos nórdicos etc., que era absolutamente falso. Uma pessoal normal obviamente que acha uma boa ideia receber tanto como um alemão, e vai na cantiga, os tratados europeus nunca foram devidamente explicados às pessoas, e quando são sujeitos a referendo, normalmente tudo o que vai no sentido de uniformizar com a UE é derrotado. A música "Portugal na CEE" dos GNR é feita precisamente no sentido de demonstrar o delírio que se criou na sociedade portuguesa acerca do europeísmo. É o mesmo que dizer que os portugueses votaram na troika nas eleições de 2011, quando os programas do PS e PSD eram diferentes daquilo que vinha no acordo da troika, mentindo e omitindo. O Syriza mente? O Governo grego quer fazer as coisas pelas quais foi eleito, está é a ser forçado por outros que não os próprios cidadãos a não fazer aquilo porque foi eleito. Está a ser chantageado por causa de políticas mentirosas de PS/PSD (desculpa, ND/PASOK, um gajo confunde) que durante décadas sempre colocaram caminhos de prosperidade que nunca se verificaram e sempre omitindo dos programas eleitorais eixos centrais das suas políticas, colocando a Grécia no caminho em que está.
Por a ND/PASOK ter mentido e feito porcaria ao longo dos anos, não quer dizer que o Syriza não tenha mentido também. E fizeram-no, mesmo alguns deputados do Syriza já estão desconfortáveis com a situação, houve um pelo menos(deputado ou eurodeputado não me lembro) que pediu desculpa aos eleitores por o Syriza ter oferecido uma ilusão. Era óbvio que eles não iam ter perdão de dívida, que não iam conseguir fazer, sequer, metade das coisas que estavam a propor, por isso é uma ilusão. É também por isso que o KKE vai esta sexta fazer uma manifestação anti governo, o que achas disso já agora? Quanto á questão da entrada de Portugal na UE, concordo que as expectativas estavam demasiado altas, mas é indubitável que a entrada de Portugal na CEE(depois UE) resultou numa melhoria das condições de vida das pessoas que compensa a partilha da soberania. E acrescento que os nossos padrões de vida podiam até ser melhores, se os fundos europeus tivessem sido melhor aproveitados e não tivéssemos algumas políticas erradas ao longo do tempo. Por fim, que tem a ver neste momento o ND/PASOK com as negociações do Syriza? Estás a insinuar que o Syriza não conseguiu x porque o estes dois partidos ao longo dos fizeram as política que fizeram? Digo mais, se o ND/PASOK não tivessem as políticas que tiveram, não seria preciso resgate, mas a questão aqui é que o Syriza sabia como todos nós as condições do País, toda a dependência exterior da Grécia e sabia perfeitamente que nunca iria ter perdão de dívida e não era possível ter a política que eles prometeram. Mais do que tudo, o PCP, o Bloco e o podemos, sabendo do que está a acontecer têm o dever de corrigir as políticas que propõem com esta experiência do Syriza, é uma questão de honestidade intelectual.
50 Sombras de Osmo Escreveu:
Depois dizes que desvalorizo os programas eleitorais quando o meu post foi claramente a fazer do programa eleitoral vencedor uma questão de soberania popular que não pode ser descartada como se nada fosse por outros que nada tiveram a ver com esse processo. Logo aqui começas bem, até Setembro ainda és capaz de ter lugar numa circunscrição em Viseu ou assim. Depois tentas traçar um caminho linear do seguimento de uma política. Não sei o que te leva a achares um boss de previsão económica, quando até os gurus da cena não têm tido grande sucesso nisso. Mas mesmo assim, essa linearidade revela o limite de alcance das vistas que tens. Ora não sendo, como já afirmei várias vezes aqui, mega-entendedor de economia sobretudo relativo a estes mecanismos financeiros e tal, algumas coisas que são ridículas:
Eu não sou um mega entendedor de economia nem boss de previsão económica, de todo. No entanto, o que referi são nexos causais simples e básicos que acontecem se aplicadas determinadas políticas, e mais, são coisas que aconteceram/estão a acontecer com o Syriza, não é preciso prever o futuro, basta olhar para o presente.
50 Sombras de Osmo Escreveu:
"Saída ordenada do euro=preparação=tempo para os capitais todos saírem dos bancos=falta de liquidez=colapso dos bancos=colapso de todo o setor que depende dos bancos". Os capitais todos? Porque raio haveria de querer uma velinha, um estudante ou na verdade a maioria da população retirar os seus capitais de um banco? Para quê? Para onde? E com que motivo? Essas saídas de capitais tendem a ser normalmente de investimentos estrangeiros, ou de empresas com grande volumes de negócios, é mau, mas não são todos os capitais que saem. Segundo isso era uma questão se o Estado não fizesse nada em relação a isso, e o PCP claramente coloca (como até vem na entrevista que meti portanto estás a escrever sem ter em conta o que a outra parte coloca na mesa o que é sempre bom sinal numa discussão) a necessidade do controlo público da banca e sucessiva nacionalização. É que nem é inédito, desde 2008 que se tem assistido em vários países do Mundo o Estado a envolver-se precisamente para evitar o colapso do sector bancário, e em Portugal já tiveste isso com o BPN e agora com o BES. Portanto essa linha de raciocínio não faz sentido, simplesmente o PCP quer ser coerente em levar isto de forma a evitar novos casos, e não intervir em situações extremas e colocando os contribuintes a pagar as falhar de um sistema nas quais accionistas e administradores não sofrem consequências pelos seus actos.
Os capitais todos não, mas os capitais suficientes para provocar uma crise de liquidez. Porque raio haveriam de querer essas pessoas tirar o dinheiro de Portugal? Porque o valor da sua riqueza diminuiu se o dinheiro delas se mantiver em escudos. É um exercício simples e bastante simples de fazer, entre manter o valor da minha riqueza em euros deslocando o meu capital, ou mantendo o meu dinheiro onde está, e sofrer uma grande desvalorização. Qualquer dessas pessoas que tenha algum dinheiro(não precisam de ser milionários) podem fazer isso. E lá está, é algo que está a acontecer na Grécia! o dinheiro tirado dos bancos entre janeiro e fevereiro foi suficiente para deixar os bancos a tremer, foi o suficiente para fazer com que o governo grego cedesse em tanta coisa. Quanto ás nacionalizações, não! Não é de todo assim, os Estados, por vezes, intervém em Bancos que estão em risco de colapso durante um determinado período de tempo, a proposta do PCP é tomar o controlo da banca permanentemente. São coisas diferentes
50 Sombras de Osmo Escreveu:
"saída do Euro -->desvalorização da moeda-->valor da riqueza nacional desvalorizava-se e rácio da dívida(agora em escudos)/produto aumentava significativamente". Não necessariamente, para isso é que o PCP fala em preperação, precisamente para se negociar com os parceiros internacionais os moldes em que se retiraria do Euro, sobretudo na questão da convertabilidade da dívida de euros para escudos. Aliás, o PCP de qualquer modo já propõe a renegociação da dívida em montantes, juros e prazos, porque actualmente ela é insustentável. Por isso se para o devedor torna-se insustentável devolver o dinheiro, é do interesse do credor que se negocie as condições para rentabilizar o investimento que fez, ou mais que não seja, para cortar as perdas. Como tu próprio referes, isso já foi feito na Grécia com a ND, e em prazos se não me engano, também já se fez em Portugal com o PSD. Esse espantalho só surge, curiosamente, quando é a esquerda no poder.
E olharmos para a realidade? Não é preciso fazer previsões, só é preciso ser pragmático! Achas que o Syriza não tentou negociar tudo isso? Simplesmente não há abertura para isso, nem sequer para negociar obrigações perpétuas ou obrigações indexadas ao crescimento. Na óptica do credor, a dívida continua a ser pagável. Quanto á insustentabilidade da dívida, porque é que é insustentável? O Sócrates uma vez disse uma coisa que é inteiramente verdade e se aprende em Finanças Públicas, ''as dívidas não se pagam, gerem-se''. As dívidas não têm de ser perdoadas em montantes para que sejam pagas, por exemplo, quando chegar á altura do pagamento, pode-se renovar parte dessa dívida com mais dívida, é normalíssimo acontecer não só com estados como com empresas, daí ser importante ter taxas de juro baixas para que a dívida contraída tenha menos encargos e assim seja mais fácil a sua gestão. De qualquer forma, existem imensos mecanismos para uma Gestão Normal da dívida pública entre as quais amortizações antecipadas, recompras, reciclagem da dívida(pagar dívida cara com dívida barata) e outras instrumentos. Isto quer dizer que vamos ficar com dívida para sempre? Não necessariamente, eventualmente pagamo-la, porque se for bem gerida a dívida vai diminuindo. Isto aconteceu com a Suécia, embora não tivesse uma dívida tão elevada nem problemas tão graves como os nossos, também teve um problema de dívida que chegou a 73% e agora situa-se nos 40 e já foi mais baixa. Relativamente ao perdão de dívida grego, três notas: Foi um perdão de dívida que estava na mão de privados(pessoas como tu e eu que tinham dinheiro investido em dívida grega) e isso é mais fácil de fazer do que negociar isso com Estados que atualmente detém praticamente toda a dívida grega, de qualquer forma, as taxas de juro não baixaram significativamente e sobretudo a dívida pública grega aumentou consideravelmente depois para níveis semelhantes aos do perdão, porque se não existir estabilidade orçamental não vale de nada renegociar em montantes, juros e prazos porque a dívida vai aumentar toda novamente com a agravante de a taxa de juro ser mais alta.
50 Sombras de Osmo Escreveu:
"as nacionalizações que o PCP ia fazer(da banca, outros setores da economia) levavam o País imediatamente para a bancarrota". Porquê? Acho que nas nacionalizações que referi em 1975 o único custo foi da electricidade porque a reunião foi à noite, papel para o despacho e imprimir em Diário da República. Tomando o controlo público da banca, acaba-se com a chantagem do vou sair com o dinheiro, é que o dinheiro não se guarda debaixo dos colchões.
Já demonstrei que mesmo antes do PCP chegar ao poder o dinheiro ia voar dos bancos, provocando senão uma crise de liquidez, um prejuízo avassalador nos bancos e, com isso, ias ter custos para além dos da eletricidade. De qualquer forma, se fosses com essa ideia avante, deixavas de ter investimento estrangeiro em Portugal(quem iria querer investir num País, cujo governo pode nacionalizar as empresas a todo o momento?) e isso é absolutamente necessário para recuperarmos. Anyway, mais uma vez pensas como se tivesses em 75, se calhar nessa altura a URSS supria esses investimentos e ajudava o País, agora não existe nada disso.
50 Sombras de Osmo Escreveu:
"Não pagar parte da dívida=aumento brutal das taxas de juro sobre o Estado e empresas=impossível de realizar todas aquelas nacionalizações e aumento de gastos em todos aqueles setores que o PC quer.". Porque é que os juros aumentariam se o risco de incumprimento diminui ao diminuir o valor da dívida? E mesmo que aumente, saindo do Euro tens medidas para contrariar isso, se for preciso, que se inflacione por momentos a economia para conseguir empregar um estímulo que consiga começar a gerar fluxos de riqueza dependentes da produção e não do crédito. É o que já foi feito em inúmeros países que caíram em default e que recuperaram após isso.
Mais uma vez isto é algo que está a acontecer, o credor não quer ter perdas nenhumas e tu apareces e dizes que, apesar de estar a ser tudo pago, não vão pagar tudo o que estava combinado, achas que a confiança(taxas de juro) no País sobem ou descem? Achas que alguém que não seja louco vai investir num pais que não pagou a totalidade do que lhe emprestaram anteriormente? Quanto á questão da inflação, eu acho que inflação nos dois ou três dígitos como acontece em alguns países seja alguma base sustentável para o crescimento, acho mesmo que prejudica os mais pobres.
50 Sombras de Osmo Escreveu:
"Em última análise, o projeto comunista só ia trazer mais miséria, desemprego e pobreza ás pessoas.". Portanto a solução é contentar com a miséria, desemprego e pobreza actuais. Viva Salazar! Orgulhosamente europeus! A lição de António Costa no portugal dos 3 E's: Empreendedorismo, Europa, Emigração. A trilogia da educação nacional. Ridículo o teu discurso de que está tudo bem assim e não podia ser de outra maneira.
Onde disse que a solução é contentar com a atual situação? Simplesmente a solução não é algo drástico como propões, essa solução, como já demonstrei ia tornar-nos ainda mais pobres, tornar-nos numa Venezuela sem petróleo ou numa Albânia ocidental, eu não quero isso.
"
50 Sombras de Osmo Escreveu:
Nabo, acho que o Ascom expressa bem os problemas do bipartidarismo nas sociedades ocidentais, tudo o que saia da lógica dominante é para abater, e só é realista, sensato, responsável e sei lá mais o quê, o que não muda, o que contribui para a estagnação. Esta forma de pensar se realmente fizesse sentido nas pessoas, ainda hoje andavamos a caçar e a colher frutas das árvores, porque isso da agricultura é financeiramente impossível.
É importante ser realista e ter os pés na terra e não pensar como em 75. É preferível isso do que oferecer ás pessoas ilusões e coisas que nunca vão ter como o PCP faz.
Btw, eu se repetisse o que visse na tv, diria por exemplo que os gregos cederam em toda a linha e que este é um programa de austeridade igual ao de Portugal, não digo isso. A cena é que eu sinto-me á vontade para quando o meu partido ou juventude partidária faz asneiras dizer o que penso e que o que fazem sobre determinado assunto é uma tolice, até me dá um certo gozo ter essa independência e liberdade, agora não vou ter posições que são completamente afastadas do centro/centro esquerda que é onde me situo. Mas agora uma questão, e tu, não reproduzes aqui o que ouves do comité?
Para finalizar, ''sem dinheiro não há palhaços'', por dinheiro entenda-se taxas de juro baixas para se ter dinheiro barato e divida controlada e estável e por palhaços entenda-se Sistema Nacional de Saúde, Educação pública de qualidade, Estado Social etc.. Se se quer ter uma política de esquerda ou até social liberal real, com resultados efetivos ,ou seja, progresso social, menos desigualdade, menos pobreza de uma forma durável, é preciso ter em conta esta ideia.